improvibration
uma instalação-dança
o dispositivo
O dispositivo consiste em provocar uma dupla em relação: uma pessoa porta captores de movimento; a outra porta motores de vibração. O portador dos captores é gerador de vibrações no corpo do outro. Num certo sentido, vincula-se também ao que Hélio Oiticica provocava com seus Parangolés, na realização de um contato improvisação de Steve Paxton, só que, wireless.
sobre
Ainda a questão do corpo tem espaço e mesmo centralidade na arte e na sociedade, pois que caminhamos muito lentamente com os processos de compreensão e ruptura com a dualidade corpo-mente e os problemas que isso coloca nas políticas da vida. E mais: caminhar lentamente não é um processo evolutivo, tão pouco naturalidade, mas um permanente gesto de luta e resistência contra o desaparecimento do corpo potente, do corpo que supere a mera condição de mercadoria em meio as proposições impostas pelas diferentes morfologias assumidas pela sociabilidade capitalista. Nesse sentido, sendo a arte também um espaço de disputa das sensibilidades e modos de ver, sentir e perceber, o Improvibration é uma espécie de Parangolé Low Tech oiticiquiano que estabelece um plano de relação com um outro, a partir dos dispositivo de emissão de dados de movimento de uma pessoa, disparando os motores de vibração no corpo da outra. O dispositivo joga com aquilo que Lygia Clarck propunha em seus trabalhos “de clínica” numa convocatória aos sentidos, estabelecendo uma espécie de Política da Percepção no momento em que disputa outras sensações e abertura para o sentido, deslocando o hábito perceptivo desenvolvido por cada pessoa. E para friccionar esse modo de perceber enrijecido na conjuntura da biopolítica que nos amiúda e nos faz nosso próprio algoz, a maior aposta é na convocatória por uma exterioridade. Um outro que, fora de mim, consegue desestabilizar o mesmo que se repete, provocando a amplitude da repetição diferenciada. Esse movimento do outro é também o que convoca a alocentria: movimento neurológico e político complementar a egocentria, tão necessitado de revisitação nos tempo atuais nos quais estar juntos se reconfigura dada a ruptura dos modos operados, deixando no lugar, confusos modos e um vazio que se move em reencontrar formas.
Perceber diferente, desloca-se, alocentrar-se, estar juntos, mover: esses são alguns verbos-desejos que a obra coloca, desejosa de que esses verbos possam ganhar algum estrato na luta pela vida potente, não qualquer vida.