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pulcinella

projeto de montagem de espetáculo 

Este projeto realizará a montagem de um espetáculo de Teatro de Bonecos. O espetáculo se constrói a partir da dramaturgia do teatro de burattini Pulcinella, a forma teatral de bonecos populares italiana que, segundo pesquisadores especialistas, deu origem aos teatros de bonecos populares na Europa (Punch and Judy, Guignol, etc) e ao Mamulengo no Brasil.  O teatro de Burattini siciliano é uma peça para um(a) só bonequeiro(a) e tem uma dinâmica gestual extremamente calcada no movimento. Usa um apito como dispositivo de “fala” aumentando produção de uma dramaturgia menos assentada no texto e mais imagética-e-cinética.

Meu desejo de realizar essa montagem surgiu há muitos anos quando pude conhecer bonequeiros italianos em um festival de bonecos na França. Atraída pela dinâmica extremamente cinética de partitura radicalmente sintética na produção dramatúrgica, Pulcinella é um projeto onde cruzo minhas zonas de DANÇA (análise de movimento e composição), TEATRO DE ANIMAÇÃO (campo em que tenho uma trajetória e uma pesquisa no mestrado em Teatro (na UDESC)) e CULTURA POPULAR (campo onde iniciei de modo mais consistente minha relação com a dança no grupo MiraIra, de Lourdes Macena). 

Ademais, quero produzir um trabalho que além de permitir aprofundar minhas investigações entre dança e teatro de bonecos, me possibilite estar mais perto das pessoas de pouco ou nenhum conhecimento artístico. Quero deslocar-me do circuito rebuscado da arte onde opero e poder estar de uma maneira mais democrática no acesso a arte, sem no entanto, abandonar as zonas mais refinadas de investigação da linguagem artísticas que pude desenvolver nesses quase 25 anos de estudos entre dança e marionete.

Desejo estar nas praças, nas periferias. Desejos que o senhor da bodega e as trabalhadoras do lar possam rir do meu trabalho, assim como também, os artistas especialistas o possam, a partir de uma execução dramatúrgica-gestual-visual de qualidade.

Entretanto é importante sublinhar que Pulcinella emerge numa sociabilidade de contexto racista, classista e machista. Ele por exemplo, é um boneco que usa uma máscara preta sobre uma tez rosada. Estamos diante do processo racista chamado “black-face”? Nesse sentido, se coloca um desafio de releitura: como manter a tradição e conectar com nossos avanços identitários e de classe sem perder as dinâmicas sobre as quais se estruturam essa tradição popular? O que do burattini Pulcinella é precioso como dramaturgia e dinâmica de jogo, e pode ser deslocado ligeiramente para o lado ou tornado jogo cênico crítico, sem, todavia, estabelecer uma dramaturgia aborrecida/entediante e muito menos “didática”?

Como integrante da Rede de Bonequeiras Brasileiras, temos realizados conversas  no sentido de repensar essa dramaturgia tradicional e mais, reformulando nossos lugares como bonequeiras que se no meio contemporâneo se abriu um pouco mais para mulheres, no âmbito da tradição é quase totalmente masculino. 

Nesse sentido, esse processo de montagem possui essas distintas camadas: uma mulher como bonequeira realizando um brinquedo popular da tradição raiz. E o trabalho de repensar essas dramaturgias machistas, racistas e classistas, protegendo o jogo fundamental dessa manifestação popular.

Em resumo: uma mulher, uma empanada de teatro de bonecos, uma dramaturgia tradicional popular relida, um espetáculo e muitas praças e feiras na periferia.

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