O primeiro fragmento de criação não pode ser bom,
porque não recebeu trabalho. Só por isso (ou estamos falando de um gênio)
Paralizar a continuidade do processo de criação porque o "trabalho não está bom" é um gesto incoerente* de autoniquilamento.
Incoerente se aceitamos essa premissa de que o primeiro fragmento raramente vai ser bom porque não recebeu trabalho.
Nós nos autoboicotamos, "nunca achamos a idéia suficiente" , dizia Ju Sarmento.
E esse gesto de avançar no projeto com a clareza dos movimentos de avanço só possíveis no porvir, é um gesto de dessacralização de um certo ideário do trabalho artístico: o artista não trabalha, de fato, como o lojista, mas tampouco é um iluminado cuja emersão de seu trabalho é um advento metafísico.
Na nota de Picasso(?): '1% de inspiração e 99% de inspiração'.
Ou o diretor de cinema que vi dizer: 'Me perguntaram se fiz o filme no improviso. Sim! Mas antes eu ensaiei muito.'
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